sábado, 27 de junho de 2009

Todo mundo que vale a pena conhecer


Oi pessoal, passando aqui pra CASTIGAR voces! Nao entenderam? Deixa eu explicar, posto aqui o priemiro capitulo de um delicioso livro da mesma autora do Diabo veste Prada, Todo mundo que vale a pena conhecer! E um romance fantastico, super engraçado pelo qual me apaixonei e com certeza vai prender voces tambem. Aproveitem a dica.


Como se sente sendo uma das pessoas bonitas?
— De "Baby, You're a Rich Man" (1967) De John Lennon e Paul McCartney

1

Ainda que só a tivesse visto rapidamente pelo canto do olho, eu soube imediatamente que a criatura marrom disparando pelo meu piso de tábuas fora de prumo era uma barata-d'água — o maior e mais carnudo inseto que eu jamais vira. A superbarata mal conseguira evitar passar por cima de meus pés descalços antes de desaparecer debaixo da estante. Tremendo, forcei-me a praticar a respiração dos chacras que aprendera durante uma semana involuntária em um ashram* com meus pais. Meus batimentos cardíacos diminuíram ligeiramente após algumas respirações concentradas de re ao inalar e lax ao exalar e, em alguns minutos, eu estava bem o suficiente para tomar algumas precauções necessárias. Primeiro, resgatei Millington (que também estava escondida de terror) de seu esconderijo debaixo do sofá. Então, em rápida sucessão fechei o zíper de um par de botas de couro de cano alto para cobrir minhas pernas expostas, abri a porta do corredor para encorajar a saída da barata e comecei a pulverizar todas as superfícies disponíveis do meu minúsculo quarto-e-sala com o inseticida extraforte vendido no mercado negro. Apertei o botão como se fosse uma arma de fogo e ainda estava dedetizando quando o telefone tocou, quase dez minutos depois.
O identificador de chamadas piscou com o número da Penelope. Eu quase não atendi antes de perceber que ela era um dos dois únicos possíveis refúgios. Caso a barata conseguisse sobreviver à dedetização e passeasse pela minha sala novamente, eu precisaria ficar na casa dela ou na do tio Will. Sem ter certeza de onde Will estava naquela noite, decidi que seria mais sábio manter as linhas de comunicação abertas. Atendi.
— Pen, estou sendo atacada pela maior barata de Manhattan. O que eu faço?—perguntei no segundo em que atendi o telefone.
— Bette, tenho NOVIDADES! — ela disparou de volta, claramente indiferente ao meu pânico.
— Novidades mais importantes do que a minha infestação?
— Avery acabou de me pedir em casamento! — Penelope gritou. — Estamos noivos!
Merda. Aquelas duas simples palavras — estamos noivos — podiam deixar uma pessoa tão feliz e outra tão infeliz. O piloto automático entrou em funcionamento rapidamente, lembran-do-me de que seria inadequado — para dizer o mínimo — verbalizar o que eu realmente achava. "Ele é um perdedor, P, é um menininho mimado e drogado no corpo de um garoto grande. Ele sabe que você é muita areia para ele e está botando uma aliança no seu dedo antes que você também perceba isso. Pior, casando-se com ele você só vai estar comprometendo o seu tempo até ele substituí-la por uma versão mais jovem e bonita de você mesma daqui a dez anos, deixando-a para catar os pedaços sozinha. Não faça isso! Não faça isso! Não faça isso!"
— Ahmeudeus! — gritei de volta na mesma hora. — Parabéns! Estou tão feliz por você!
____________________________
* TEMPO.(N. da T.)

— Ah, Bette, eu sabia que ficaria. Mal consigo falar, está tudo acontecendo tão rápido!
"Tão rápido? Ele é o único cara que você namorou desde que tem 19 anos. Não é como se isso não fosse esperado —já faz oito anos. Só espero que ele não contraia herpes em sua despedida de solteiro em Vegas."
— Conte-me tudo. Quando? Como? Aliança? — disparei perguntas, fazendo o papel de melhor amiga de forma bastante convincente, eu achava, levando-se tudo em conta.
— Bem, não posso falar muito porque estamos no St. Regis no momento. Lembra-se de como ele insistiu em me pegar no trabalho hoje? —Antes que eu pudesse responder, ela foi em frente, num fôlego só. — Havia um carro esperando do lado de fora e ele me disse que era só porque não tinha conseguido um táxi e falou que os pais dele estavam nos esperando para jantar em dez minutos. É claro que fiquei meio chateada por ele nem ter me perguntado se eu queria jantar lá — ele disse que havia feito reserva no Per Se e você sabe como é difícil conseguir reserva lá —, e estávamos tomando aperitivos na biblioteca quando tanto os meus pais quanto os dele entraram. Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, ele estava de joelhos!
— Na frente dos seus pais? Ele fez um pedido público? — Eu sabia que parecia horrorizada, mas não pude evitar.
— Bette, isso não chega a ser público. Eram os nossos pais, e ele disse as coisas mais lindas do mundo. Quer dizer, nunca teríamos nos conhecido se não fosse por eles, então eu entendo seu ponto de vista. E escute só: ele me deu dois anéis!
— Dois anéis?
— Dois anéis. Como aliança de verdade, um diamante redondo perfeito, de sete quilates em platina, que era de sua tataravó, e um com lapidação quadrada com baguetes de três quilates que é muito mais usável.
— Usável?
— Não se pode andar pelas ruas de Nova York com um diamante de sete quilates, não é? Eu achei muito inteligente.
— Dois anéis?
— Bette, você está sendo incoerente. De lá, fomos ao Per Se, onde meu pai conseguiu até mesmo desligar seu celular durante o jantar e fazer um brinde razoavelmente agradável, e depois fomos dar um passeio de carruagem pelo Central Park e agora estamos em uma suíte no St. Regis. Eu tinha de ligar para você e lhe contar!
Onde, oh, onde tinha ido parar a minha amiga? Penelope, que nunca nem saíra para olhar anéis de noivado porque achava que eram todos iguais, que me dissera, três meses antes, quando uma amiga em comum de faculdade ficara noiva em uma carruagem puxada por cavalos, que era a coisa mais cafona do mundo, acabara de se transformar em algo muito parecido com uma dona de casa perfeita. Será que era só amargura minha? É claro que eu estava amarga. O mais perto que eu chegara de ficar noiva fora ler os proclamas de casamento no New York Times, vulgo "A página de esportes das garotas solteiras", todos os domingos na hora do brunch. Mas isso não vinha ao caso.
— Fico tão feliz que tenha ligado! E mal posso esperar para ouvir os mínimos detalhes, mas você tem um noivado para consumar. Desligue o telefone e vá fazer seu noivo feliz. Isso não soa estranho? Noivo.
— Ah, Avery está num telefonema de trabalho. Eu fico mandando ele desligar — ela falou isso alto, para ele ouvir —, mas ele continua falando sem parar. Como foi a sua noite?
— Ah, mais uma sexta-feira estelar. Vejamos. Millington e eu demos um passeio pelo rio e um mendigo lhe deu um biscoito no meio do caminho, portanto ela ficou muito feliz, e depois eu vim para casa e espero ter matado o que devia ser o maior inseto em três estados. Pedi comida vietnamita, mas joguei fora quando me lembrei de ter lido que algum restaurante vietnamita perto daqui foi fechado por preparar carne de cachorro, então estou prestes a jantar arroz com feijão requentado e um pacote de Twizzlers velho. Ah, meu Deus, pareço um comercial de receitas dietéticas, não é?
Ela só riu, obviamente sem ter nenhuma palavra de consolo naquele momento em especial. A outra linha tocou, indicando que ela tinha outra chamada.
— Ah, é o Michael. Tenho de contar a ele. Incomoda-se se eu o incluir nesta chamada? — ela perguntou.
— Claro que não. Eu adoraria ouvir você contar a ele. — Michael sem dúvida iria se solidarizar comigo sobre toda a situação quando Penelope desligasse, já que odiava Avery ainda mais do que eu.
Houve um clique, que foi seguido por um breve silêncio, e depois outro clique.
— Estão todos aí?—Penelope gritou. Essa não era uma garota que costumava gritar. — Michael? Bette? Vocês dois estão aí?
Michael era colega meu e de Bette na UBS, mas desde que se tornara vice-presidente (um dos mais jovens que já houvera) nós o víamos muito menos. Apesar de Michael ter uma namorada firme, foi preciso o noivado de Penelope para a ficha realmente cair: nós estávamos crescendo.
— Oi, meninas — Michael disse, parecendo exausto.
— Michael, adivinhe! Eu estou noiva!
Houve uma minúscula pausa de hesitação. Eu sabia que, como eu, Michael não estava surpreso, mas ele estava se esforçando para formular uma resposta entusiasmada que fosse crível.
— Pen, que notícia fantástica! — ele só faltou gritar ao telefone. O volume ajudou bastante a compensar a falta de qualquer alegria genuína em sua voz, e eu anotei mentalmente para me lembrar disso da próxima vez.
— Eu sei! — ela cantarolou de volta. — Sabia que você e a Bette ficariam muito felizes por mim. Aconteceu há apenas algumas horas e estou tão empolgada!
— Bem, é óbvio que teremos de comemorar—ele disse alto. —No Black Door, só nós três, várias doses de algo forte e barato.
— Com certeza — acrescentei, feliz por ter algo a dizer. — Com certeza temos de comemorar.
— Está bem, querido! — Penelope gritou para longe, compreensivelmente sem se interessar muito por nossos planos etí-licos. — Gente, o Avery desligou o telefone e está puxando o fio. Avery, pare! Tenho de ir, mas ligo para vocês dois mais tarde. Bette, a gente se vê no trabalho amanhã. Amo vocês dois!
Houve um clique e então Michael disse:
— Você ainda está aí?
— Claro que estou. Quer me ligar ou eu ligo para você?
Nós todos aprendêramos cedo que não se podia confiar que o terceiro participante tivesse mesmo desligado e, portanto, sempre tomávamos a precaução de fazer uma nova ligação antes de falar merda sobre a pessoa com quem havíamos desligado antes. Ouvi uma voz estridente ao fundo e ele disse:
— Droga, acabei de ser chamado. Não posso falar agora. Podemos conversar amanhã?
— Claro. Diga para a Megu que eu mandei um oi, está bem? E, Michael? Por favor, não fique noivo tão cedo. Acho que eu não ia agüentar.
Ele riu.
— Não precisa se preocupar com isso, eu prometo. Eu falo com você amanhã. E, Bette? Cabeça erguida. Ele pode ser um dos piores caras que nós dois já conhecemos, mas ela parece feliz e é só o que a gente pode querer, sabe?
Desligamos e eu fiquei olhando para o telefone durante alguns minutos antes de retorcer meu corpo para fora da janela em uma vã tentativa de vislumbrar alguns centímetros da vista do rio; o apartamento não era grande coisa, mas era, graças a Deus, todo meu. Eu não o dividia com ninguém há quase dois anos, desde que Cameron fora embora e, apesar de ser tão comprido e estreito que eu podia esticar as pernas e quase tocar a outra parede, e apesar de ser localizado em Murray Hill, e apesar das tábuas do chão estarem ligeiramente empenadas e das baratas terem tomado conta, eu reinava sobre meu próprio palácio particular. O prédio era uma monstruosidade de cimento na esquina da rua 34 com Primeira Avenida, um rinoceronte com vários blocos, que abrigava inquilinos ilustres como o integrante adolescente de uma ex-banda de garotos, um jogador profissional de squash, uma estrela pornô de filmes B e seu fluxo de visitantes, um joão-ninguém, uma ex-atriz-mirim que não trabalhava há duas décadas e centenas e mais centenas de recém-formados que não conseguiam aceitar muito bem a idéia de sair para sempre do dormitório da faculdade ou da fraternidade. Tinha uma ampla vista do rio East, desde que a definição de "ampla vista" incluísse um guindaste de construção, alguns lixões, o muro de tijolos do prédio ao lado e um pedaço de rio de mais ou menos sete centímetros de largura que só é visto após atos incomensuráveis de contorção. Toda essa glória era minha pelo custo mensal equivalente a uma casa de quatro quartos e dois banheiros para uma família fora da cidade.
Enquanto ainda estava enroscada no sofá, revi minha reação à novidade. Achei que soara sincera o suficiente, senão absolutamente extasiada, mas Penelope sabia que ficar extasiada não era da minha natureza. Eu conseguira perguntar sobre os anéis — no plural — e declarar que estava muito feliz por ela. É claro que não havia dito nada realmente sincero ou significativo, mas ela provavelmente estava tonta demais para perceber. Em suma: um desempenho bastante razoável.
Minha respiração havia se normalizado o suficiente para fumar outro cigarro, o que me fez sentir ligeiramente melhor. O fato de a barata ainda não ter reaparecido também ajudou. Tentei me assegurar de que minha infelicidade provinha da preocupação genuína de que Penelope ia se casar com um cara realmente horroroso e não de uma inveja profundamente enraizada de que ela agora tinha um noivo e eu não conseguia nem sair a segunda vez com o mesmo cara. Eu não podia. Haviam se passado dois anos desde que Cameron fora embora e, apesar de eu ter cumprido os estágios obrigatórios da recuperação (obsessão pelo trabalho, obsessão por compras e obsessão por comida) e tivesse passado pelo número normal de encontros às escuras, encontros apenas para drinques e os raros encontros para jantar, apenas dois caras tinham alcançado o status para um terceiro encontro. E nenhum dos dois chegara ao quarto. Repeti para mim mesma várias vezes que não havia nada errado comigo — e freqüentemente fiz Penelope confirmar isso —, mas estava começando a duvidar seriamente da validade dessa afirmação.
Acendi um segundo cigarro no primeiro e ignorei o olhar de desaprovação canina de Millington. O sentimento de auto-aversão estava começando a se assentar sobre meus ombros como um cobertor quente e familiar. Que tipo cruel de pessoa não conseguia expressar felicidade sincera e genuína em um dos dias mais felizes da vida de sua melhor amiga? Quão falso e inseguro alguém tem de ser para rezar para que a história toda não passe de um gigantesco mal-entendido? Como eu pude me tornar tão vil?
Peguei o telefone e liguei para o tio Will, procurando algum tipo de validação. Will, além de ser uma das pessoas mais inteligentes e cruéis do planeta, era meu fã incondicional. Ele atendeu o telefone com uma voz ligeiramente arrastada pelo gim-tônica e eu lhe dei a versão resumida e menos dolorosa da grande traição de Penelope.
— Me parece que você está se sentindo culpada porque Penelope está muito entusiasmada e você não está tão feliz por ela quanto deveria estar.
— É, é isso mesmo.
— Bem, querida, podia ser muito pior. Pelo menos não é uma variação do tema no qual a infelicidade de Penelope a está deixando feliz e realizada, certo?
— Hein?
— Schadenfreude. Você não está se beneficiando, emocionalmente ou de alguma outra forma, da infelicidade dela, certo?
— Ela não está infeliz. Ela está eufórica. Sou eu que estou infeliz.
— Bem, aí está! Está vendo, você não é tão ruim. E você, minha querida, não vai se casar com aquele garoto mimado cujos únicos talentos parecem ser gastar o dinheiro dos pais e fumar grandes quantidades de maconha. Estou enganado?
— Não, é claro que não. É só que parece que tudo está mudando. Penelope é a minha vida e agora ela vai se casar. Eu sabia que um dia isso aconteceria, mas não sabia que um dia seria tão rápido.
— Casamento é para os burgueses. Você sabe disso, Bette. Isso ativou uma série de imagens mentais de brunches de domingo através dos anos: Will, Simon, o Essex, eu e a seção do Sunday Styles. Nós dissecávamos os casamentos durante todo o brunch, sem nunca deixar de cair numa gargalhada maldosa en-quanto líamos criativamente as entrelinhas.
Will continuou.
— Por que você estaria ansiosa para entrar em um relacionamento para o resto da vida, cujo único propósito é estrangular cada milímetro da sua individualidade? Quer dizer, olhe para mim. Sessenta e seis anos, nunca me casei e estou perfeitamente feliz.
— Você é gay, Will. E não só isso, você usa uma aliança de ouro no dedo anelar da mão esquerda.
— Onde você quer chegar? Acha que eu realmente me casaria com o Simon, mesmo que pudesse? Aqueles casamentos do mesmo sexo na prefeitura de São Francisco não são exatamente a minha cara. Nem morto.
— Você mora com ele desde antes de eu ter nascido. Você sabe que é, essencialmente, casado.
— Negativo, querida. Nós dois somos livres para ir embora a qualquer momento, sem nenhuma confusão legal nem ligações emocionais. E é por isso que dá certo. Mas chega disso; não estou lhe dizendo nada que você já não saiba. Fale-me sobre o anel.
Eu lhe contei os detalhes que ele realmente queria saber enquanto mastigava o resto do Twizzlers e nem percebi que havia adormecido no sofá até quase três horas da manhã, quando Millington latiu seu desejo de dormir em uma cama de verdade. Arrastei nós duas para o meu quarto e enfiei minha cabeça debaixo do travesseiro, lembrando a mim mesma várias vezes que isso não era um desastre. Não era um desastre. Não era um desastre.

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