domingo, 30 de agosto de 2009

Carta de uma mãe portuguesa ao seu filho


Querido Filho,

Te escrevo estas linhas para que saibas que estou viva. Te escrevo devagar porque sei que tu não consegues ler rápido. Bom, não vais mais reconhecer a casa quando vieres, porque a gente mudou.

Finalmente enterramos teu avô. Encontramos o cadáver com esse negócio da mudança; estava no armário desde aquele dia em que ganhou da gente brincando de esconde- esconde. Hoje tua irmã Julia teve um filho, mas como ainda não sei se é menino ou menina, não posso dizer se você é tio ou tia.

Quem não tem aparecido por aqui é o tio Venâncio, que morreu totalmente no ano passado. Ele e teu primo Jacinto, que sempre acreditaram ser mais rápido que um touro, comprovaram que não eram.

Estou preocupada com o cachorro Boby, que insiste em perseguir os carros parados e está ficando cada vez mais chato. Ah! Finalmente os engarrafadores de refresco tiveram a grande idéia de por um letreiro na tampinha que diz: "Abra por aqui".

Que achas? Teu irmã José fechou o carro com a trava e deixou as chaves dentro; teve que ir lá em casa para pegar a chave duplicada e poder tirar todos nós de dentro do carro.

Esta carta te mando com Manolo, que vai amanhã para ai, a propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto? Bom meu filho, não escrevo o endereço porque não o sei. É que a última família portuguesa que vivia aqui nesta casa levou os números para não terem que mudar de endereço.

Se encontrares a Dona Maria dá um alô da minha parte; caso não a encontres, não precisas dizer nada.

Tua mãe que te ama:

P.S. Ia te mandar cem escudos, mas já fechei o envelope.

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