O Tríduo Pascal
No Domingo de Ramos a Igreja comemora a entrada solene de Jesus em Jerusalém, entrada triunfal com cânticos de alegria e ramos de palmeira, contrastando com a humildade de Jesus que monta um burriquito. Nada faria prever que depois de tal apoteose que levou alguns fariseus a dizerem a Jesus: “Mestre, repreende os teus discípulos”, tendo Jesus respondido: “Eu vos digo: se eles se calarem, gritarão as pedras”(Cfr. Lc. 19, 39,40), passados cinco dias os mesmos O acusariam e condenariam à morte mais infamante – a morte de Cruz, reservada aos piores malfeitores.
Quinta-feira Santa é o primeiro dia do Tríduo Pascal. Nesse dia Jesus celebrou a Última Ceia com os seus discípulos, tendo instituído a Eucaristia e o Sacerdócio ministerial.
A Ceia era uma festa judaica, recordatório do êxodo dos judeus para o deserto. O Senhor como judeu fiel à Lei, procurou que a Ceia fosse preparada com todo o rigor e esplendor. Foram Pedro e João os encarregados de fazer todos os preparativos.
Nessa altura Jesus sabia que a Sua morte estava próxima e quis deixar aos seus um exemplo de humildade e serviço – foi com a cerimónia do Lava-pés. A lição do Senhor mais do que de humildade e serviço, foi de amor - «humilhou-se e tomou a forma de servo (Fil. 2, 7).
Jesus ia partir e quis deixar uma recordação aos seus – instituiu a Eucaristia. Ficou Ele mesmo, sob as espécies de pão e de vinho; deu-se a Transubstanciação: os acidentes ficaram, mas a substância do pão e do vinho foi mudada no Corpo e Sangue de Jesus.
Acabada a Ceia foram para o Jardim das Oliveiras, onde Jesus se recolhe em oração e sente sobre Si o peso de todos os pecados da Humanidade – os passados, os presentes e os futuros; cada um de nós contribuiu para a Agonia de Jesus, e segundo Pascal, as coisas não ficam por aqui, pois ele afirma que “Jesus está em agonia até ao fim dos tempos”.
No Jardim das Oliveiras Jesus é preso; segue-se a flagelação, a coroação de espinhos, as injúrias, as blasfémias, as troças. Os algozes foram muitos dos que tinham sido objecto da bondade de Jesus, mas por cobardia, respeitos humanos ou dinheiro, atraiçoaram-nO, sendo o primeiro Judas, um dos Apóstolos.
Tudo isto ocorre na madrugada de Quinta para Sexta-feira, quando começa o julgamento para dar uma aparência de legalidade. O Senhor é condenado à morte e parte para o Calvário com a Cruz aos ombros. No caminho, exausto, dá sinais de desfalecer. Os seus carrascos para levarem o tormento até ao fim, contratam Simão de Cirene para ajudar Jesus. Dá-se então o encontro de Jesus com Sua Mãe – esse encontro foi ao mesmo tempo motivo de nova dor, mas também de lenitivo, pois a presença de Mãe é sempre um alívio.
Crucificado, padeceu três longas horas de dolorosa agonia e morre por que quer, como se depreende das suas últimas palavras: “Pai, em Tuas mãos encomendo o Meu espírito” (Lc., 23, 46). E se nasceu pobre numa gruta, pobre morreu, pois teve de ser sepultado no sepulcro de um amigo – José de Arimateia.
Aí ficou até que passasse o descanso de Sábado e na madrugada de Domingo ressuscitou. Morreu para nos salvar do pecado, pois só a morte de um Homem verdadeiro que é ao mesmo tempo Deus verdadeiro, podia satisfazer a justiça divina. A morte não podia triunfar e com S. Paulo podemos dizer: “(…)Onde está, ó Morte, a tua vitória? Onde está, ó Morte o teu aguilhão?” (1 Cor., 15, 54-55).