Com palavras de outros, desabafo!
ESTOU CANSADO
Estou cansado sem rosto sem o querer
Estou cansado pela sombra do abismo
Estou morto sem sangue para viver
Estou cheio de palavras vãs de sufismos
Credo nos credos da alma moribunda
Com a redundância circular da pena
Existo na existência de uma cova funda
Persisto no ardor da sombra serena
Estou cansado de querer o que não quero
Estou cansado de ter o que não tenho
Estou morto por ter realizado o que espero
Estou cheio por abortar o que empenho
Credo nos credos vazios do coração
Não creio, querendo querendo a saudade
Existo na existência fina da solidão
Onde a maldade é a mais pura bondade
Estou cansado desta trova perdida
Estou cansado de palavras vazias
Estou morto no chegar da despedida
Estou cheio destas luzes sombrias
(retirado de http://gothicum.blogs.sapo.pt/3008.html)
Estou Cansado Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Estou cansado sem rosto sem o querer
Estou cansado pela sombra do abismo
Estou morto sem sangue para viver
Estou cheio de palavras vãs de sufismos
Credo nos credos da alma moribunda
Com a redundância circular da pena
Existo na existência de uma cova funda
Persisto no ardor da sombra serena
Estou cansado de querer o que não quero
Estou cansado de ter o que não tenho
Estou morto por ter realizado o que espero
Estou cheio por abortar o que empenho
Credo nos credos vazios do coração
Não creio, querendo querendo a saudade
Existo na existência fina da solidão
Onde a maldade é a mais pura bondade
Estou cansado desta trova perdida
Estou cansado de palavras vazias
Estou morto no chegar da despedida
Estou cheio destas luzes sombrias
(retirado de http://gothicum.blogs.sapo.pt/3008.html)
Estou Cansado Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
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